1. |
Alvorecer da Tragédia
01:00
|
|||
2. |
Afiando Lâminas
03:21
|
|||
Fatia, corta, espeta
Fura e tritura
Enferrujada, inoxidável
Cega ou implacável
Curva ou retilínea
Curta ou entranhada
Leve, ágil, eficaz
Ou demorada e sádica
Amanhece o dia radiante
Embora seja outro dia muito árduo
Traz bom humor ao Comandante
Pois trabalho nunca lhe é um fardo
A roda gira, em atrito faiscante
Muitas lâminas de muitas ferramentas
Algumas para se manchar de seiva
Outras para se manchar de sangue
Lâminas em métodos rústicos
Ou nas extensões das engrenagens
Modernas, ou iguais por séculos
O fio que risca carnes e pastagens
Coser, cortar, espetar, triturar
Verbos que aceleram a lei universal
Na natureza tudo se transforma
Na manufatura, na podridão carnal
|
||||
3. |
Varejeiras Primaveris
03:14
|
|||
A majestosa floração e o calor primaveril
É palco aberto à fauna invertebrada
Beleza que esconde um acontecimento vil
Adormecido sob o manto da natureza morta
Na aparente inércia da matéria decomposta
A polinização traz uma alegre sinfonia
Mas nem sempre o zumbido é motivo de alegria
Nem sempre cores vivas e o doce como mel
Mas cores frias putrefatas e viscosas como fel
Asas em frequências frenéticas, no tom da morbidez
Umidade azul e verde no solo ou no ar
Úmido calor que apressa a fermentação
Varejeiras e vermes têm parentesco singular
Varejeiras e abelhas, quase a mesma canção
No ar a vida dança leve, no solo a vida em mutação
A carcaça generosa da falecida Mimosa
Descansa no pasto florido como um funeral
Convidados zumbindo em ovação uníssona
Pelo pólen, pela carne podre, pelo mesmo ritual
Ovos de larvas eclodindo, nem pelo belo, nem pelo mal
|
||||
4. |
Valsa Condenada
03:52
|
|||
Um, dois, três, três, dois, um
É a marcha dos carrascos
Um, dois, três, três, dois, um
Os sem sapatos batem os cascos
Pode dançar até cansar
Fadiga divertida, que bela ilusão
Pode sonhar até acordar
Destino não muda, não tem opção
Seja em pé ou no meio da lama
Ninguém mais é cavalheiro ou dama
Há somente um jeito de dançar
Bem-vindos à valsa descompassada
Pode espernear até acertar
Acerto atrasado não vai adiar
O espasmo arrítmico e o silêncio
Quando a música acabar
Seja em pé ou no meio da lama
Ninguém mais é cavalheiro ou dama
Há somente um jeito de marchar
Marcha em três tempos atordoada
Novatos, crescidos, naturalmente abatidos
Carne tenra, gordurosa, nervosa
Corte nobre ou de segunda
Todos forçosamente convidados
Um, dois, três, três, dois, um
É o compasso dos carrascos
Um, dois, três, três, dois, um
Os sem sapatos batem os cascos
|
||||
5. |
Brete Apertado
02:28
|
|||
No brete apertado não há ninguém ao seu lado
À frente, órgão excretor como seu próprio espelho
A única face familiar só faz cagar e mijar
Rumo ao final infeliz no brete estreito e cagado
No brete apertado a vida passa ao lado
Recortada na vista estreita do ripado
No brete apertado não há ninguém ao seu lado
Mas sobram coices no meio das fuças
Chifradas fora do alcance das vistas
Num breve momento de instinto inesperado e frustrado
Montar à frente ou tentar recuar
Desejo animal ou fuga desesperada
No brete apertado a vida passa ao lado
O castigo pontiagudo vem pelo estreito ripado
|
||||
6. |
Progresso
01:30
|
|||
A velha estrebaria
Foi ao chão em poucas horas
Madeira podre não foi párea
À maquinaria demolidora
Ferro e concreto
Piso e parede feito espelho
Lá se foi o aconchego
Dum rústico ambiente
Tubos cromados em úberes mornos
Sedententos de ouro branco
Lá se foi o calor do toque
Das mãos do Comandante
A nova estrebaria
Preza pela assepsia
Tecnológica e fria
Rende mais leite todo dia
|
||||
7. |
Cloaca de Ouro
02:45
|
|||
A póstuma galinha Caramela
Formosa, famosa e fabulosa
Três quilos e meio de energia
Punha três ovos num só dia
Ciscar frenético e apetite voraz
Da goela à cloaca num instante
Genes poderosos e digestão eficaz
Ovo de ouro ou somente reluzente?
Como um intocável estandarte
Seu poleiro hoje está vazio
Nenhuma outra penosa ali se atreve
Repetir seus feitos com o mesmo brio
Bebeu da fonte radioativa toda vida
Não contou a ninguém o seu segredo
O córrego que vinha da usina abandonada
Era seu trunfo e definhar cancerígeno
Refeições matinais fartas de gemadas
Surtiram os efeitos mais inusitados
A prole do Comandante resultou bem variada
A escola não foi gentil com seus herdeiros
|
||||
8. |
Polca Porca
04:24
|
|||
Na sonolenta distração dos Comandantes
Saiu cada um do seu cercado
Na escuridão da noite, alguns cambaleantes
Outros cegos pelo inusitado
Grupo desordenado, porém excitado
Firmou logo a mesma direção
O celeiro esquecido entreaberto
Foi o convite para a diversão
Uma máquina que debulhava algo
Dava o tom e o ritmo monótono
Um primoroso concerto elaborado
Para o deleite do incauto convidado
À meia luz do candeeiro dançam sombras
Multiplicam rabos, fuças e bicos inebriados
O motor: um e dois, palha seca sob as patas
Elegância em coices, chifradas e revoadas
Solta a polca e solta a porca
O celeiro vai tremer
Solta a polca e solta a porca
O rabinho vai torcer
Quem persegue ou quem foge
Quem dança ou só sacode, ninguém sabe
Pára a polca, prende a porca
O bacon não pode esperar
Óinc! Óinc! É a eloquência da liderança
Óinc! Óinc! São os gritos de esperança
Óinc! Óinc! É o primeiro e o último grunhido
Óinc! Óinc! Sem relevante significado
Solta a polca e solta a porca
O celeiro vai tremer
Solta a polca e solta a porca
O rabinho vai torcer
Quem persegue ou quem foge
Quem dança ou só sacode, ninguém sabe
Pára a polca, prende a porca
O bacon não pode esperar
Celeiro aberto e luminária acesa
Cercados livres de ferrolho
No frenesi da fantasia ardilosa
Algo errado...
Que passou despercebido...
|
||||
9. |
Sala de Troféus
02:37
|
|||
Apesar de ser somente um cão
Passeava nas saletas do alto comando
Bonachão, sem nem pedir permissão
Acolhido por ser amável e abobado
Mas certo dia voltou assustado
Reuniu todos na estrebaria
Relatou o sombrio e desafortunado
Destino de amigos que ora conhecia
Memória cruel ter um ótimo faro
Em cada detalhe que aquela sala trazia
Sutilmente ornamentando o mobiliário
Ou na explícita taxidermia
Penas, couros, ossos, corpo todo ou busto
Retalhados, costurados, estufados
Alguns decorativos de alto custo
Ou desfigurados em objetos ordinários
Havia também um gato vivo
Entediado, fazendo pouco caso
|
||||
10. |
Não Salvos Pelo Sino
04:06
|
|||
Não afligia ainda o cintilante metal
Era como uma jóia musical
Não pesava ainda ou ensurdecia
Enaltecia a vaidade do animal
Qual seria a verdadeira utilidade?
Bonito, animal algum pode negar
Se pudessem entender o Comandante
Ele bem que poderia explicar
Modelos próprios para todos os rebanhos
Variados badalos e tamanhos
Vão pesando sempre mais
Revelando estridentes decibéis
Certa vez, ao avistar o predador
Despreparados como outras tantas vezes
E mesmo assim paralisados de terror
Soou o sino revelador das pobres reses
Qual seria a verdadeira utilidade?
Além de atrair predadores e pastores
Até o acasalamento perde espontaneidade
Trilha sonora de todos os horrores
Certa vez, num impulso louco de fugir
A cerca bamba e os arames relaxados
Pobre terneiro, mediu mal o seu devir
Rasgou a carne, esperneando aos badalos
Qual seria a verdadeira serventia?
Além de humilhar os desventurados
A calamidade ganhou melodia
Tal corda de forca enfeitada com arranjos
|
||||
11. |
Livres São Os Selvagens
02:04
|
|||
12. |
Versos A Um Coveiro
02:34
|
|||
Numerar sepulturas e carneiros
Reduzir carnes podres a algarismos
- Tal é, sem complicados silogismos,
A aritmética hedionda dos coveiros.
Um, dois, três, quatro, cinco... Esoterismos
Da Morte! E eu vejo, em fúlgidos letreiros,
Na progressão dos números inteiros
A gênese de todos os abismos!
Oh! Pitágoras da última aritmética,
Continua a contar na paz ascética
dos tábidos carneiros sepulcrais
Tíbias, cérebros, crânios, rádios e úmeros,
Porque, infinita como os próprios números,
A tua conta não acaba mais!
By Augusto dos Anjos
|
Curral Brazil
Alternative metal with influences of unusual rhythms like waltz and polka, with lyrics in Portuguese.
Streaming and Download help
If you like Curral, you may also like:
Bandcamp Daily your guide to the world of Bandcamp